Elogio da Sombra/In Praise of Shadow

About This Project

A poluição luminosa é um fenômeno típico das cidades contemporâneas e tem seus primórdios no início da Era Moderna. As lâmpadas que acendemos à noite para iluminar nosso caminho são também as responsáveis por “apagar” o céu.

A observação do firmamento sempre foi elemento essencial no desenvolvimento das civilizações, base de avanços científicos que conduziram a humanidade ao seu atual estágio de evolução. O céu noturno guiou navegadores e inspirou poetas. Mas, desde o princípio da modernidade, a visibilidade do cosmos vem se deteriorando, e sua contemplação é cada vez mais dificultada em muitas regiões do planeta.

Na obstinação de ampliar sua fatia de território, o homem acende novas luzes e invade o escuro sem qualquer mesura. Contudo, a luminescência gerada em nome do progresso acaba se tornando relevante dilema ambiental: ao se expandir no espaço, a luminosidade se reflete nos gases da atmosfera e nas partículas sólidas suspensas, provocando uma névoa brilhante que impede a observação do céu.

Preocupados com o crescimento acelerado deste fenômeno, cientistas e ambientalistas apontam consequências fisiológicas prejudiciais tanto aos animais quanto aos humanos, uma vez que a ausência de alternância regular entre dia e noite interromperia vários padrões metabólicos, inclusive o sono.

Para Jonathan Crary, autor de “24/7 Capitalismo Tardio e os Fins do Sono” (2013), o processo de clareamento da noite na Terra obedece a um projeto econômico-industrial que desde o início da Era Moderna tenta ampliar o “tempo útil” da humanidade a partir do qual o sistema produtivo passa a funcionar sem pausas, sem discernimento entre dia e noite.

Com base nesses argumentos, me propus a construir um ensaio fotográfico que literalmente lança luzes sobre a questão da poluição luminosa, um problema que permanece às sombras das grandes questões sociais.

Em termos práticos, o projeto “Elogio da Sombra” é um trabalho de documentação fotográfica dos efeitos da poluição luminosa sobre o Vale do Aço mineiro, onde vivo. A proposta consiste em fotografar o céu noturno das cidades do Vale do ponto de vista da zona rural e dos bosques urbanos. Imerso na natureza, aponto minhas lentes para a reluzente cidade. Dessa forma, algumas imagens captam tanto a aura luminosa da cidade quanto uma visão parcial dos astros.

O título Elogio da Sombra faz referência ao poema homônimo de Jorge Luis Borges, escrito na época em que uma doença hereditária impunha-lhe uma cegueira progressiva. Durante o processo criativo, conheci também a obra de Jun’ihirō Tanizaki, “Em Louvor à Sombra”, na qual ele trata das transformações de seu Japão da primeira metade do século 20, pressionado pela modernidade tecnológica e pela influência dos hábitos ocidentais que invadiam o oriente – incluindo a predileção da cultura de seu país pela penumbra, cada vez mais invadida por luzes artificiais.

* Esta etapa do trabalho foi executado através do edital Bolsa de Exposições Virtuais e de Arte Urbana, da Lei Aldir Blanc (Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais e Ministério do Turismo, Governo Federal).

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