Performances entomológicas/Entomological performances

About This Project

O fenômeno moderno da poluição luminosa tem sido objeto central de minhas pesquisas desde meus primeiros anos atuando como artista visual. Desenvolvi trabalhos com diversas abordagens trazendo, no cerne de todos eles, o propósito de evidenciar o corolário pernicioso que este hábito humano – de acender novas luzes e invadir o escuro sem qualquer mesura – impõe sobre o meio ambiente, afetando a vida de animais de hábitos noturnos, impedindo a observação do firmamento, e influenciando diretamente a vida humana ao desestabilizar o chamado ritmo circadiano, mecanismo regulador das funções fisiológicas.

Com o início da pandemia de Covid-19, tendo passado a maior parte dos anos de 2020 e 2021 confinado em meu apartamento, encontrei nos insetos notívagos alados, abundantes na região onde moro, um novo e acessível material visual para dar vazão ao impulso criativo, permitindo uma continuidade no aprofundamento deste tema que me é tão caro.

Atraídos por fontes luminosas artificiais, esses pequenos seres voadores, exímios timoneiros do ar, acabam desorientados, desviam involuntariamente sua trajetória e são, quase sempre, sentenciados à morte.

Neste desvio dramático, seu ciclo vital se encerra precocemente, muitas vezes antes de cumprir sua missão definitiva, que é reproduzir e colaborar para a manutenção da espécie.

A série “Performances entomológicas” surge a partir do registro desse rastro deixado pelas criaturas –  mariposas em sua maioria – em seu ato sistemático de voar em caóticas espirais cujos contornos se permitem fixar no plano fotográfico, ora em brilhantes arabescos assimétricos, ora em trilhos fantasmagóricos que possibilitam certo reconhecimento de suas formas anatômicas e cores. Em todos os casos, o que se fixa são desenhos de uma aspiração performática, algo aleatoriamente coreográfico que também pode ser visto como uma identidade biométrica do voo de cada inseto.

Depois de capturar e colecionar milhares de fotografias de mariposas em seu voo noturno, passo a uma segunda etapa do trabalho, no qual sobreponho digitalmente dezenas ou centenas de fotografias em um único quadro.